27 de fev. de 2009

Tomé, o incrédulo

"Tomé, o incrédulo". Este foi o título que Mark Tansey, pintor pós-moderno americano, deu ao seu quadro acima. Todos lembramos de Tomé, um dos 12 apóstolos de Cristo que duvidou da ressurreição do mestre. Mais do que isso; Tomé confessou que mesmo que visse o Cristo ainda assim não acreditaria: "Se eu não puser o dedo no lugar dos cravos e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nehuma crerei". Não bastava ver, Tomé tinha que comprovar com suas mãos para acreditar que aquilo era verdade. Oito dias depois, conta o evangelista João, Jesus apareceu para os doze e foi direto em Tomé: "Põe aqui o teu dedo e vê as minha mãos; chega a tua mão e põe-na do meu lado; não seja incrédulo, mas crente". E Jesus concluiu: "Porque me viste creste? Bem aventurados os que não viram e creram...".

A relação entre o quadro de Mark Tansey e a história bíblica é óbvia: ambos não se contentaram em ver ou ouvir falar; eles tiveram que tocar, colocar a mão, comprovar para acreditarem que era verdade.




Mas o que o autor poderia estar querendo transmitir com esta imagem, se é que ele queria transmir alguma coisa? Qual é a intenção dessa figura? Sobre o que ela nos faz refletir?

Durante muito tempo a sociedade ocidental adotou a visão de mundo da igreja, baseada equivocadamente no "crer para ver" de Jesus. Equivocadamente, não porque este princípio não tenha valor, mas porque existia a pretenção religiosa de se aplicar este princípio para todas as áreas da vida, e assim ninguém podia questionar as doutrinas da igreja, ninguém podia investigar a natureza, todos tinham que aceitar humildemente a voz dos oficiais igreja com verdade ultima e absoluta, sem questionar ou discutir.

Mas a partir de Galileu Galilei houve uma mudança de paradigma na sociedade ocidental. A partir das descobertas e dos estudos desse gênio nasceu a ciência. E a sociedade abandonou o "crer para ver" de Jesus, para pregar o "ver para crer" de Tomé. Assim é na ciencia: é preciso "ver para crer". Uma simples inversão de palavras que altera totalmente uma visão de mundo. O quadro de Mark Tansey releva que a ciência é construída graças aos "Tomés" da vida. Galileu foi um Tomé. Tansey parece que estar reconhecendo isso nesta figura. Parece que ele está elogiando a atitude desse homem em duvidar, em investigar, se certificar, e o compara ao conhecido discípulo de Cristo que muitos séculos antes tivera a mesma atitude.

Mas como o ser humano parece não conseguir se manter no equilíbrio, hoje a tendencia do homem é só acredita naquilo que ele pode ver e comprovar. Ou na linguagem atual, só se acredita no "comprovado cientificamente". E assim o homem saiu de um extremo e caiu em outro. Passaram a acreditar que tudo o que não pode ser comprovado cientificamente simplesmente não existe. A religião passou a ser desprezada. E assim, a guerra entre a religião e a ciencia continua até hoje. Mas não precisaria ser assim...

"A religião sem a ciência é cega; a ciência sem religião é paralítica".

Albert Einstein


Veja outros quadros de Mark Tansey: Discarding the frame; The Inocent eye test; A Chave

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Gostei do conteudo. fiquei um tempao procurando aq na net e aq estava tudo mais completo da forma que eu queria..

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  3. Stephen Jay Gould em seu livro Pilares do Tempo distinguiu muito bem naquilo que chamou de MNI Magistérios Não Interferentes) a relação entre fé cristã e religião. Nem tudo pode ser comprovado cientificamente. Tanto a ciência como a religião cristã ocupam esferas distintas de atuação. Deus como autor de ambas não existe possibilidade de serem contraditórias. A ciência cuida de como funciona o céu e religião de como ir para o céu. Como disse Antoine de Saint Exupery no livro Pequeno Príncipe: "O essencial é invisível aos olhos".

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